O Farofa Carioca está de volta!

Alô Canaveral, alô Sumaré! Alô Salvador, Pernambuco, Florianópolis, Curitiba! Alô mundo! O Farofa Carioca está de volta! Liderado por Seu Jorge e Gabriel Moura, o Farofa Carioca e a Universal Music Brasil lançam, no dia 13 de junho, pela primeira vez no streaming, o álbum “Moro no Brasil” (1998) remixado, remasterizado – inclusive em versão Dolby Atmos (áudio espacial) – e, em breve, em vinil. Como já anunciava Seu Jorge na abertura do disco: “Um prato cheio de alegria, poesia e diversão enchendo a barriga do povão de ritmo e brasilidade!”.

“Foi fascinante examinar os arquivos originais, mixar e masterizar usando os recursos tecnológicos de hoje; é como abrir uma janela no tempo 27 anos depois”, conta Gabriel Moura, guitarrista, vocalista e compositor. “Esse relançamento é uma alegria muito grande porque, com toda essa transformação digital que passamos, podermos trazer para a juventude o acesso ao álbum é um prazer enorme para todos nós”, afirma Seu Jorge.

“É um lançamento histórico. Farofa Carioca, além de marcar a época, fez uma mistura de ritmos – pop, rock, reggae, samba, hip-hop. Eles influenciaram o pop-rock brasileiro que explodiu na década de 90. Para o lado artístico, para a cena da cultura musical brasileira e carioca, o Farofa Carioca é fundamental”, complementa Paulo Lima, presidente da Universal Music Brasil.

Se o Farofa Carioca já era uma verdadeira experiência sonora, o áudio espacial destaca todas as nuances desse rico caldeirão que usa o samba como base para incorporar ritmos como soul, funk, reggae, forró, jongo, pop, tudo azeitado pelo suingue das Big Bands de Gafieira e Movimento Black Rio da década de 70. “A intenção era, naturalmente, divertir e causar impacto. Tanto no som quanto nos shows”, lembra Gabriel. “Vínhamos do teatro e queríamos levar algo a mais para o palco além da música; precisávamos disso. Então, os shows tinham perna-de-pau, malabarista, acrobata, voos, fantasias. Chegamos a ter dois números de trapézio. Tudo era muito divertido”, lembra Seu Jorge.

Quem presenciou um show do Farofa Carioca nunca esquece. Ano passado, o grupo se reuniu para uma apresentação memorável no Rio de Janeiro dando o pontapé inicial à nova fase, que conta ainda com o vocalista Mário Broder. “Para mim, esse show foi uma alegria muito especial porque minhas filhas, por exemplo, que nasceram depois da banda e cresceram me ouvindo falar do grupo, puderam assistir, curtir essas referências. A minha mais nova comentou comigo que ficou bastante encantada com o show”, conta Seu Jorge.

Nascido entre as ladeiras de Santa Teresa e as coxias do grupo de teatro da UERJ, o Farofa Carioca uniu subúrbio e zona sul, cruzou as fronteiras do Estado e se destacou de forma avassaladora na cena pop dos anos 90. “A gente queria fazer uma banda como uma espécie de fanfarra: Móvel, compacta, com todo o charme carioca, informal, descolada, orgânica, sabe? Sobretudo naquele momento de encontros, praia, pessoas… pra gente era uma grande novidade”, lembra Seu Jorge, que dividia estúdios, bares e shows com amigos de bandas contemporâneas como O Rappa, Planet Hemp e Chico Science & Nação Zumbi.

O momento de liberdade de expressão, autoestima e consciência social e política guiava os artistas, que refletiam, como num espelho, todas as dificuldades enfrentadas pelos brasileiros sem perder a alegria e a irreverência do espírito carioca. Racismo, pobreza, violência, drogas, minorias, caos urbano e social são tratados com inteligência e simplicidade tornando a arte do grupo popular e sofisticada ao mesmo tempo. “Era um Brasil que saía definitivamente da ditadura, tinha uma nova constituição promulgada há pouco, derrubara Collor, vivia o dólar 1 x 1 e se abria mais para a consciência ambiental após a Eco 92; sonhávamos com um futuro brilhante”, contextualiza Gabriel Moura.

Porém, ao mesmo tempo, as notícias eram desanimadoras, como a chacina na Candelária, os massacres dos Carajás e Carandiru, o caso do indígena Galdino, Sérgio Naya e a queda do Edifício Pallace 2, as fraudes no INSS etc. “Boa parte do que nos unia era a possibilidade de se encontrar nos sonhos, no desejo de realização individual e coletiva. Quem quer construir algo passa a se preocupar uns com os outros; então pensávamos nos nossos pais, vizinhos, brasileiros como nós, e esses assuntos refletiam naturalmente na nossa música”, completa Seu Jorge.

O ÁLBUM – Diante de todo esse contexto, conceito e qualidade artística, o primeiro álbum do Farofa Carioca foi disputado pelas gravadoras após um concorrido show no antigo Ballroom, no Rio de Janeiro. O potente samba funk da banda, conduzido por um naipe de metais eletrizante, uma cozinha percussiva de tirar o fôlego e arranjos de cordas diferenciados no pop da época, formavam o tempero desse prato que Seu Jorge, Gabriel Moura, o francês Bertrand Doussain e a big band serviam. Seja numa roda de samba na praia de Ipanema ou nos principais palcos do Brasil, como os festivais Free Jazz e Abril Pro Rock.

O disco traz sucessos como a faixa-título “Moro no Brasil”, um samba-funk ácido e carnavalesco resumindo o espírito do grupo: “Moro no Brasil, não sei se moro muito bem ou muito mal; só sei agora faço parte do país; a inteligência é fundamental”, avisava o refrão. “São Gonça”, música que virou hit instantâneo ao avisar “Pretinha, faço tudo pelo nosso amor”. “Bebel”, um groove-rap-percussivo com metais caprichados, percussão eletrizante e os ataques de coro em uníssono contagiando o refrão. Outro sucesso do grupo, “Doidinha” – com citação de “Mulata Assanhada” (Ataulfo Alves) e inspiração em “Garota de Ipanema” (Tom Jobim/Vinicius de Moraes) – é até hoje uma das mais pedidas nos shows do Seu Jorge ou Farofa.

Parte do DNA natural da banda, as questões sociais e raciais saltam no disco no reggae “A Carne”, com participação do cantor Fagner, que viria a ser regravada por Elza Soares anos depois eternizando o verso “A carne mais barata do mercado é a carne negra”; na crônica “A Lei da Bala”, sobre a vida e violência nos morros da cidade, unindo suingue, divisões rítmicas, funk carioca e um storytelling conhecido da periferia. Assim como na envolvente “Jacaré”, quando, já na introdução, uma trabalhadora reclama das condições do transporte e do país (“É mal administrado mesmo!”) e Seu Jorge emenda: “Aí eu posso falar, tô na minha área, na condição”, e solta como uma metralhadora a letra da música, alertando e convocando o povo para acordar contra os desmandos políticos – “Tiram onda com o seu dinheiro de contribuinte o ano inteiro, deitado numa rede, na sua casa de praia caçando jacaré no pantanal”. Isso lembra algo?

Com uma identidade regional muito forte, o Farofa Carioca também é filho das misturas étnicas brasileiras. As causas identitárias e dos povos originários tão discutidas hoje já faziam parte dos pilares artísticos do grupo. Como na provocativa “Índio”, que mistura rock, psicodelia, marcações indígenas e percussão em uma letra sarcástica e contundente. A música foi dedicada ao líder indígena Galdino, assassinado por jovens em Brasília, e a gravação contou com os integrantes do grupo A Parede e citação da ópera “O Guarani” (Carlos Gomes).

O tema também é apresentado na releitura de “Timbó”, única faixa não autoral do disco, um samba de terreiro gravado por Jamelão em 1957 para a escola Império Serrano, que falava sobre um mítico feiticeiro africano criado na ilha de Marajó (PA). “Ela nos conecta com a nossa ancestralidade, a espiritualidade que faz todo o sentido quando se fala de povo brasileiro. Tem um arranjo maravilhoso de cordas do Maestro Paulo Moura, meu tio, que também faz o solo de clarineta no final. A faixa ainda conta com a voz e o tantã suingado do Sandrinho Carioca, que é o coração do Farofa”, opina Gabriel Moura.

O álbum finaliza com duas crônicas, infelizmente, bastante corriqueiras em nossa sociedade: “Rabisca Robson”, um groove teatral impactante sobre o drama juvenil da dependência em drogas, com sampler de um diálogo entre Jair Rodrigues e Otacilio da Mangueira extraído da música “O Carioca”, de Jair; e “Menino da Central”, uma black music xoteada, com participação ilustre de Sivuca na sanfona, homenageando os garotos que vendem sortidos na Central do Brasil: “Espelho vivo de uma causa social”, sublinha a composição.

A reunião do Farofa Carioca 28 anos após sua criação celebra a música, a amizade e o papel transformador da arte. A faixa instrumental de abertura, “Dudivara”, nos convoca para a pista e se inspira até em Michael Jackson, artista pop e contemporâneo representando as influências internacionais da banda. O relançamento de “Moro no Brasil” traz para a nova geração sentimentos e temas pertinentes e necessários que figuram há décadas no país. “Hoje a comunicação, de uma forma geral, está muito diferente, rápida; o jovem tem outros estímulos, outras apurações, outros filtros de informação e vivência, mas acredito que todos os assuntos abordados no álbum são bastante compatíveis e sensíveis para todos nós”, afirma Seu Jorge.

O Farofa Carioca é Bertrand Doussain (flauta), Carlos Moura (trombone), Gabriel Moura (voz e violão), Mário Broder (vocal), Sandrinho Carioca (percussão), Sérgio Granha (baixo), Seu Jorge (voz e guitarra), Valmir Ribeiro (cavaquinho) e Wellington Coelho (percussão). Enquanto não encontramos o grupo face a face nos palcos, já podemos aumentar o volume e curtir o som em nossas playlists e festas mundo afora. Afinal, “a inteligência é fundamental…”. Salve, Farofa!

Ouça e baixe aqui:

http://umusicplay.lnk.to/MoroNoBrasil

Download da capa e foto em alta resolução aqui:

https://drive.google.com/drive/folders/1Trwj9fvSUF8Kno7V3b3DILNMAQIBiSNK?usp=sharing

Repertório “Moro no Brasil” (1998):

1. Dudivara (Sérgio Granha / Carlos Moura)
Sample: Locução: “Devemos nos concentrar nesse momento histórico” – Fatos e Fotos – 1969 – Narrado pela Voz Da América

2. Moro no Brasil (Gabriel Moura, Seu Jorge, Wallace Jefferson, Jovi Joviniano)

3. A Lei da Bala (Gabriel Moura, Seu Jorge, Jovi Joviniano, Sandrinho)

4. São Gonça (Seu Jorge)

5. Bebel (Fernando Moura, Gabriel Moura, Jovi Joviniano)
Sample: Planet Rock (A.Baker/J.Robie/Soul Sonic Force)

6. Doidinha (Fernando Moura, Gabriel Moura, Jovi Joviniano, Carlos Negreiro)
Incidental: Mulata Assanhada (Ataulfo Alves)

7. A Carne (Seu Jorge, Marcelo Yuca, Ulisses Cappelletti)
Participação: Fagner

8. Timbó (Ramon Russo)

9. Jacaré (Seu Jorge, Sérgio Granha)

10. Índio (Gabriel Moura, Sérgio Granha, Seu Jorge)
Incidental: O Guarani (Carlos Gomes)

11. Rabisca Robson (Seu Jorge, Sérgio Granha, Sandrinho, Jovi Joviniano, Gabriel Moura)
Citação: Diálogo entre Jair Rodrigues e Otacilio da Mangueira extraído da faixa “O Carioca” do LP – Jair Rodrigues

12. Menino da Central (Maury Santana, Seu Jorge, Wallace Jefferson, Maury Santana)

Farofa Carioca em “Moro no Brasil”:

Vocal, Guitarra – Seu Jorge
Guitarra, Voz – Gabriel Moura
Flauta – Bertrand Doussain
Baixo – Sergio Granha
Cavaquinho – Valmir Ribeiro
Percussão – Sandrinho, Wellington Coelho
Trombone – Carlos Moura

Ficha técnica:

Uma produção PolyGram dirigida por Farofa Carioca e Carlos Beni.

Direção artística – Max Pierre
Gerência Artística – Ricardo Moreira
Coordenação nos estúdios – Barney
Assistente de AR – Leonardo Rivera
Coordenação executiva – Danusa Carvalho
Gravado no estúdio Cia dos Técnicos por Mário Jorge Bruno
Assistentes Neno “Tatu”, Alexandre, Sinistro e Lucas
Mixado no Blues Estúdios por Jorge Gordo Guimarães Assistente – André Ratones
Masterizado no estúdio Magic Master por Ricardo Garcia Assessoria na finalização do projeto – Alexandre Agra Assistente de coordenação executiva – Ricardo Rodrigues Cadinho
Copeiro – Pereira da Companhia dos Técnicos.

Participações:

Sérgio Granha, guitarra em “Índio”;
Seu Jorge, guitarra em “São Gonça”;
Ulisses Capelletti, guitarra em “A Lei da Bala” e “Menino da Central” e solo em “Índio”;
Jovi Joviniano, pandeiro e cuíca em “Doidinha” e pandeiro em “Moro no Brasil” e “Bebel”;
Rubens Silva, voz do menino em “Menino da Central”;
Duane, Triângulos, zabumba e block em “Menino da Central”;
C.A. Ferrari, Sidon Silva e Celso Alvin, uma Parede de percussão em “Índio”;
Ringo, guitarra em “Dudivara”;
Sivuca, Sanfona em “Menino da Central”.
Patrícia Boechat, vocal em “Dudivara”;
Carlos Moro, solo de trombone em “Moro no Brasil”;
Bidu Cordeiro, introdução em “Índio”;
Henrique Band, sax barítono e solo de sax alto em “Menino da Central” e solo de sax barítono em “Moro no Brasil”;
Levi Chaves, clarinete em “Jacaré”, solo de clarinete em “A Lei da Bala” e solo de sax tenor em “Rabisca”.

Cordas:

Paulo Moura, arranjo de cordas e regência em “Timbó” e solo de sax soprano em “Timbó”;
Vitor Chicre, arranjo de cordas e regência em “Dudivara”.
Vitor Chicre e Seu Jorge, arranjo de cordas em “São Gonça”, regência de Vitor Chicre.
Vitor Chicre e Gabriel Moura, arranjo de cordas em “Índio”, regência de Vitor Chicre;
Giancarlo Pareschi, solo de violino em “São Gonça”.

Violinos:

Paschoal Perrota, Giancarlo Pareschi, Bernardo Bessler, Michel Bessler, José Alves da Silva, Walter Hack, Ricardo Amado da Silva e João Daltro de Almeida.

Violas:

Frederick Stephany, Eduardo Roberto Pereira, Jesuina Noronha Passaroto, Marie-Christine Bessler

Cellos:

Marcio Malard, Jorge Kundert Ranevsky, Alceu de Almeida Reis, Jaques Morelenbaum

Coro:

Farofa Carioca e Pedro Moura
Preparação vocal – Suely Mesquita

Arte:

Projeto Gráfico – RODA Atelier de Artes Visuais
Fotografia – Daniel Mattar
Assist. de fotografia – Tuca Costa
Produção de fotos – Ana Bellotto
Assist. de produção -Renata Reis
Carpintaria (port) – Marcelo Ribas
Coordenação gráfica – Gê Alves Pinto e Geysa Adnet

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